sábado, 12 de maio de 2012

A influência dos Cinemas no Comportamento Sexicista

Texto do blog Bloqueiras Feministas: Receita: Como amansar mulheres em dois mil anos (fácil e rápido, agrada toda a família).

 O texto me chamou bastante atenção e não podia deixar de compartilhar aqui no blog, é uma questão de influência e até de educar como querem, a força do cinema em nossas vidas que não nos damos conta.

Não vou negar que a nova adaptação do livro "Millennium: Os homens que não amavam as mulheres", ou mais popularmente "A garota da tatuagem de dragão" me agradou, é um filme com conceitos e levada no dark/punk e isso logicamente foi um atrativo a mais pra ver o longa, enfim vamos ao texto:

A mulher deixa de ser autogestora e se torna um intrumento incapaz e frágil, todas as mulheres são assim?

"Violência. Vem do latim violentia, que significa violência, caráter violento ou bravio, força. O verbo violare significa trotar com violência, profanar, transgredir.
Tais termos devem ser referidos a vis, que quer dizer, força, vigor, potência. Mais profundamente, a palavra vis significa a força em ação, o recurso de um corpo para exercer a sua força e portanto a potência, o valor, a força vital.

Este post é sobre a imposição da violência aos homens e a formação de um exército de servas para um grupo de senhores, com bastante conveniência para AMBOS OS LADOS. É sobre a imposição da brandura à mulher ao longo de dois milênios ou mais.

Este abrandamento – que pressupõe que às mulheres cabe ser a doçura do mundo e aos homens, a lança que caça – é uma falácia vendida inclusive pela ciência, que propaga estas aleatoriedades desde que se entra na escola. (Seja criacionista ou não). Esta cultura reserva o papel de vítimas às mulheres e aos homens o papel de agressores/defensores.

Basta um filme para assistir como se faz: na recente refilmagem de “Millenium – Os homens que não amavam as mulheres”, feita por David Fincher, a personagem principal perdeu toda a sua agressividade, típica de homens, para ganhar ares de menina que precisa de proteção.

É muito interessante observar as diferenças entre os dois filmes. Além da mudança de posicionamento da personagem principal, no filme original Lisbeth Salander é uma psicopata. No filme de Fincher ela é uma heroína. Os traços de agressividade e violência da personagem foram omitidos até fisicamente: na versão americana o corpo de lis é esguio e magro.

Na versão sueca a personagem sustenta músculos bem aparentes, que a permitem se defender com violência de um assalto no metrô – cena cortada sumariamente na versão de 2011. A violência de Lis, no filme americano, só se justifica quando ela sofre um estupro, ou quando “seu amado” tem a vida ameaçada.

Dias depois, milhares de meninas ao redor do mundo querem ser Lisbeth Salander, a heroína hacker. Mas nas escolas as meninas ainda ganham bonecas e são impedidas de se sujarem.

Os meninos são impelidos a pararem de ler e irem brincar de porradinha, às vistas sorridentes dos pais. O homem pacífico se transforma em motivo de bulling e a dúvida sobre a própria sexualidade o faz correr para as aulas de boxe. A “mulher violenta” – o próprio termo assusta, como se não existissem mulheres violentas – cabe esconder ao máximo seus instintos e “trabalhar o feminino” em alguma aula de pole dancing.

Os rótulos seguem dando mais combustível à uma guerra que leva as mulheres a serem historicamente vítimas. A esperarem a resposta dos homens sobre seus corpos – como no Receita: como amansar mulheres em dois mil anos (fácil e rápido, agrada toda a família)caso do aborto, que segue em discussão – sobre suas reações e sua própria vida.

Então, quando a Maria da Penha é invocada, a vítima se retira de casa com seus filhos e vai para a casa abrigo. Afinal, o Estado deve protegê-la. (porque não é o homem a ser retirado?). Quando existe o estupro, é a mulher que passa pela revitimização em psicólogos e varas para produção de provas – enquanto o homem segue solto. Na rua, as mulheres que se calem diante de cantadas “exageradas” porque senão podem apanhar. “E saberão porque estão apanhando” – diria um delegado. Na escola, a menina que revida com força a tentativa de beijo forçado vai para a diretoria e seus pais são chamados a dar explicações: “sua filha está muito agressiva com os colegas”.

A ação pela resposta similar é negada às mulheres. Quase ninguém fala sobre revidar. Quase todas as mulheres tem medo de revidar. Quase todas as mulheres não revidariam, porque machucar está riscado do cardápio feminino de reações, assim como falar palavrões (“mulher falando palavrão é horroroso. Isso é coisa de homem”). Algumas comprariam o gás pimenta, mas não usariam, por medo de machucar demais…

Também quase todas as mulheres são delicadas demais para carregarem as compras. Elas só podem levar em seu suave colo seus filhos. As portas dos carros, afinal, também são feitas para os homens abrirem, já que eles dirigem. As cadeiras dos restaurantes precisam ser bem ajeitadas pelos homens para que elas possam sentar, já que é difícil fazer isso tendo pouca força nos delicados pulsos…

A linha entre a gentileza e a dominação também é tênue, e esta autora também curte cavalheiros e cavalheirismos.

Este post não serve para tentar retirar a feminilidade das mulheres nem incentivá-las a falarem palavrões. (Até porque palavrões são deselegantes vindos de qualquer um). Também não é um “call to arms” na intenção de convocar a mulherada para a guerra, ou um post de apologia à violência.

Esse texto pretende levantar a polêmica sobre a ação e a auto-proteção consciente, sobre andar de cabeça erguida e tentar fazer alguma coisa enquanto a polícia não chega. Porque na maioria dos casos, ela não vai chegar."

fonte: Blogueiras Feministas