quarta-feira, 14 de março de 2012

Revolucionários Anarquistas: Maria Lacerda de Moura

Dando continuidade a lista de grandes anarquistas, quando digo grande, me refiro não a riqueza materiais como dinheiro e status, mas aos valores deixados e a riqueza de conhecimentos que trascederam o tempo, através de livros, escritos enfim e que hoje, se estou escrevendo sobre tais anarquista tudo se deve a mídia alternativa, a internet e aos livros e conversas com outros anarquistas, e com todo o prazer do mundo, hoje trago a anarquista  individualista brasileira Maria Lacerda e Moura.

A palavra individualista pode parece algo egoísta a primeira vista mas calma lá que vou explicar um pouco do anarquismo individualista, em um outro momento, então não tire conclusões precipitadas rsrs.
Já escrevi aqui no blog sobre o movimento Operário no Brasil, onde anarquista vão a rua e fazem greve geral, bem, está passagem da história brasileira ganha pouco espaço nos livros didáticos de escola públicas ou seja onde for, agora imagine a participação da mulher nesses movimento, que foi um dos maiores marcos em se tratando de reividicação de direitos.

A questão da mulher é praticamente esquecida.

Se hoje há preconceito as mulheres que tem atitude e falam o que pensam, ou mostram seus corpos como bem querem, nos séc XX, as coisas eram muito piores, os valores da sociedade tradicionalista, deixavam a mulher numa situação de subalterna, quase que exclusivamente domestica, com as velhas idéias da "fragilidade feminina", do  papel "maternal" das mulheres ou da sua "passividade".

Como se sabe o anarquista é igualitário, ou seja , nessa época os homens que faziam parte de movimentos sociais, compartilhavam com suas companheiras, ideias e valores dessa ideologia, e deixava elas fazerem suas escolhas.

Mesmo assim a presença feminina era muito inferior a masculina.
Entre as mulheres que se destacaram nas lutas anarquista, temos, Maria Lacerda de Moura, uma mulher de personalidade combativa, escritora e conferencista, que teve sua obra dinfudida para fora do Brasil e especialmente na Espanha, só que sua popularidade é praticamente desconhecida no Brasil, onde um certo feminismo parece querer ocultar aquela que seria uma das primeiras e mais importantes ativistas das causas das mulheres, mas que nunca reconheceu no Estado, no Direito e no acesso profissional burguês a sua causa. 

Na verdade, isso acontece porque, antes de tudo, via generosamente a luta feminista como parte integrante do combate social compartilhado igualmente por homens e mulheres engajados na luta pela eliminação de toda exploração, injustiça e preconceito. 

Talvez por isso mesmo, ela seja ainda um símbolo incômodo para toda a sociedade conservadora, até para o atual conservadorismo feminista.

Maria nasceu no estado de Minas Gerais, em  16 de maio de 1887, desde jovem já mostrava interesse as idéias anticlericais e questões sociais. 

Formou-se na Escola Normal de Barbacena, em 1904, começando logo a lecionar nessa mesma escola.

 Inicia então um trabalho junto às mulheres da região, incentivando um mutirão de construção de casas populares para a população carente da cidade. Participou da fundação da Liga Contra o Analfabetismo. Como educadora, adotou a pedagogia libertária de Francisco Ferrer .

Em 1920, no Rio de Janeiro, fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher, que combateria a favor do sufrágio feminino. Após mudar-se para São Paulo em 1921, se tornou ativa colaboradora da imprensa operária e começou a dar aulas particulares e a colaborar na imprensa operária e anarquista brasileira e internacional. 

Chegou a escrever para o famoso jornal libertário "A Plebe "escreveu principalmente sobre pedagogia e educação. Seus artigos foram também publicados por jornais independentes, progressistas, jornais operários e anarquistas de todo o Brasil.

Em 1923, lançou a revista "Renascença", publicação cultural,  cujo foco foi a formação intelectual e moral das mulheres, divulgada no movimento anarquista e entre setores progressistas e de livre-pensadores.

Fatos marcaram um pouco da atuante militância de Maria Lacerda, como em 1928, jovens estudantes e trabalhadores paulistas,invadiram o jornal pró-fascista italiano Il Piccolo, como resposta a um artigo que caluniava violentamente a pensadora libertária. 

Na mesma época, Rachel de Queiroz, polemizou, nas páginas do jornal O Ceará, com um jornalista cearense que atacou Maria Lacerda.    

O texto de Maria Lacerda de Moura, foi publicado no jornal independente O Ceará (1928), de Fortaleza, a pedido da então jovem escritora Rachel de Queiroz, que se consagraria como uma das grandes romancistas brasileiras conteporâneas.

  Esse texto expressa o pensamento de Maria Lacerda de Moura sobre o feminismo e sua visão anarco-individualista. 

Uma filosofia libertária bastante influenciada por Han Ryner, um pensador libertário original que se destacou na  França como ativista anti-militarista, anti-clerical e defensor do amor livre. Outra influência notória no texto é a de Emile Armand.

    As conferências e textos da militante tratavam de temas como: educação, direitos da mulher, amor livre, combate ao fascismo e antimilitarismo, educação sexual dos jovens, a virgindade,  o direito ao prazer sexual, o divórcio, a maternidade consciente e a prostituição, assuntos considerados tabu naquela época.

 Maria Lacerda de Moura pode ser considerada uma das pioneiras do feminismo no Brasil e uma das poucas ativistas que se envolveu diretamente com o movimento operário e sindical.

Entre 1928 e 1937, a ativista libertária viveu numa comunidade em Guararema (SP), no período mais intenso da sua atividade intelectual, tendo descrito esse período como uma época em que esteve "livre de escolas, livre de igrejas, livre de dogmas, livre de academias, livre de muletas, livre de prejuízos governamentais, religiosos e sociais".

Ao longo de sua vida ela, passou por algumas fases de maior envolvimento social e outras de isolamento, umas de otimismo e outras de declarado pessimismo. 

E, se no fim da vida, permanecia num certo pessimismo, isso deve-se certamente às divergências e rupturas que, no fim da década de 20, confrontavam anarquistas e comunistas ao mesmo tempo em que acontecia a ameaçadora ascensão do fascismo. No entanto, quando após a fundação do Partido Comunista dirigentes desse partido, fizeram várias tentativas para aliciá-la, a pensadora libertária recusou-se a abandonar sua visão de mundo, mantendo até ao fim da vida o seu anarquismo individualista.

Dicas de leitura:
    A mulher hodierna e o seu papel na sociedade (1923)
    A mulher é uma degenerada? (1924)
    Religião do amor e da beleza (1926)
    Civilização, tronco de escravos (1931)
    Amai-vos e não vos multipliqueis (1932)
    Clero e Fascismo, horda de embrutecedores (1933)
    Fascismo – filho dileto da Igreja e do Capital (1933)

Em seu livro "Religião do amor e da beleza", Maria Lacerda de Moura defende o amor livre. Para ela, o amor só seria livre quando as mulheres não fossem mais compelidas aos braços dos homens por estarem submetidas a constrangimentos financeiros (seja pelo casamento, pela prostituição ou pela "escravidão do salário"), nem estivesse atada a preconceitos religiosos de qualquer natureza.

Para quem curte um filme ou documentário tem: "Maria Lacerda de Moura – Trajetória de uma Rebelde"  de 2003. 

O documentário possui 32 minutos, realizado pela equipe do Laboratório de Imagem e Som em Antropologia, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.
Hoje, Maria Lacerda de Moura, é nome de uma rua no Rio de Janeiro e de uma escola pré-escola na periferia de São Paulo, sinais de um reconhecimento oficial da personagem que representa. Tem uma tese de doutorado sobre sua trajetória pessoal, na Universidade de São Paulo e múltiplas referências em outras. 
Alguns outros trabalhos estão sendo elaborados comparando sua atuação à de outras anarquistas contemporâneas e aprofundando a análise de sua obra como educadora.

Postagem possível graças:

 recollectionbooks.com
wikipedia.pt.org
Nondo50

6 comentários:

  1. Oi Josi,

    Adorei o texto! Maria Lacerda representa não só a luta rebelde, mas um referencial de igualdade em um pensamento simples e constante no tempo.

    Beijos.

    Lu

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  2. Vim primeiro agradecer por seguir meu blog, Crítica Amapaense e segundo para parabenizá-la pelo blog. Gostei muito das publicações que li, tanto que agora estou a seguindo!

    Aguardo a próxima publicação!

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  3. Oi Josi,

    dá para acreditar que a Rede Globo exibiu um seriado sobre a famosa anarquista-feminista brasileira? Claro, dentro daquela visão tradicional de novelas comumentes fatigantes do circuito midiático burguês. Acho que Maria pode ser facilmente comparada com Emma Goldman, em relação a tendência anarquista delas: o individualismo, embora a Emma, se assumisse como comunista revolucionário, o que não exclui o indivíduo em todo caso. Lutaram bravamente pelas conquistas dos direitos da mulher naturalizados atualmente.

    Parabéns pela qualidade do blog. Quando tiver disponibilidade visite o tempossafados.blogspot.com sempre procura tratar de liberdades e resistências lá!

    Abraços libertários!

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  4. Parabens pela postagem é maravilhosa

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  5. Parabéns pela postagem!

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