terça-feira, 8 de novembro de 2011

Documentarío "Rock Brasília – Era de ouro" relembra tragetória de bandas punks de Brasilia


Hoje, isto soa estranho, mas houve uma época em que não existia um cenário de rock no Brasil o que dominava era a MPB, um pouco do Samba e depois a Tropicália.

Pelo menos, não como atualmente, com bandas surgindo de diversos estados, fazendo shows pelo país e, principalmente, sendo descobertas e reconhecidas pelo público (pricipalmente na internet), além das inumeras e talentosas bandas que sobrevivem do underground nacional, sem o amparo de uma grande gravadora, mas que recebem reconhecimento lá fora por seu esforço e inumeras musicas para baixar na internet, principalmente em Blogs ou Myspace.

No entanto, na década de 1970, o “rock brazuca” era basicamente formado no imaginário popular nacional como uma pálida lembrança da Jovem Guarda, dos Mutantes e das iniciativas localizadas, que se esvaíam com o tempo.
Com a chegada dos anos 1980 e o fim da ditadura militar, começaram a brotar no mercado fonográfico diversos grupos de rock influenciados na maioria por bandas e cantores dos EUA e Inglaterra.

A diferença é que naquela década surgia uma cena fora do eixo Rio-São Paulo, uma reunião de gente que gostava e fazia rock e punk na capital do Brasil – até então, noticiada na mídia apenas devido aos atos de seus políticos.

Esse movimento agora é tema de Rock Brasíla – Era de ouro, documentário de 111 minutos, que trás a trajetoria das principais bandas de rock de Brasilia.

Dirigido por Vladimir Carvalho (de O país do São Saruê e O engenho de Zé Lins), o filme, que ganhou o prêmio de Melhor Documenário no Festival da Paulínia, conta a trajetória da Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude através dos depoimentos de seus membros fundadores e até dos seus familiares, como Briquet Lemos, pai de Fê e Flávio Lemos, e Carmem Manfredini, mãe de Renato Russo, que lembram episódios importantes da carreira de seus filhos.

A essa altura, você já deve estar se perguntando: e o Paralamas do Sucesso? Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone ficaram de fora do documentário, só aparecendo no comecinho, na lembrança de que foram eles que levaram as fitas-demo das bandas de Brasília para as gravadoras do Sudeste. O argumento para o Paralamas não ter sua história registrada é que passou menos tempo na capital do país e não participou desse grupo da chamada “Colina”, onde se encontravam os futuros integrantes dos supracitados conjuntos. De qualquer forma, sentimos essa ausência.

O documentário cobre fatos revelantes na história das bandas, como os encontros dos rapazes, as trocas de influências, o envolvimento com drogas, as turnês capengas.

Um dos episódios abordados é o controverso show da Legião Urbana no Estádio Mané Garrincha em 1988.
Inclusive, o depoimento de Renato Russo da abertura do filme foi feito momentos antes dele subir ao palco naquele dia.

As imagens dessa apresentação são o ponto alto do doc, mostrando o antes e o depois do concerto, cujo saldo foram mais de 500 pessoas feridas, vítimas da desorganização da produção - há a revelação de que Renato Russo estava com um mal pressentimento sobre o evento, lembrando do show Gimme shelter (1969), dos Rolling Stones, no qual um fã foi assassinado pelos Hell's Angels, responsáveis pela segurança.

Em Rock Brasília, os músicos falam principalmente da dificuldade que encontraram em manter uma banda, das brigas internas, das discussões com os produtores musicais das gravadoras, da relação com a família, do fim e retorno de suas bandas (no caso, Plebe Rude, em 2000, e o Capital Inicial, em 1996, que voltou até com mais fôlego do que tinha nos anos 1980).

Mas, não há como ignorar, os melhores trechos do documentário, que, por vezes, aparenta ter uma cara de produção barata, são os que trazem as falas engraçadíssimas de Renato Russo – numas delas, ele conta que estava cansado de fazer hits (para que não viveu essa época, as músicas da Legião Urbana chegavam a irritar de tanta exposição nas rádios) e quis fazer um disco bem pra baixo para causar estranhamento nas pessoas (As quatro estações, de 1989), e para sua supresa, o público adorou e ele recita, sorrindo, o começo da letra de Há tempos, “Parece cocaína/Mas é só tristeza...”. Ali foi o topo da carreira do grupo.


Não à toa, o músico, que vai ser também foco de mais duas produções cinematográficas, entre elas uma cinebiografia, era o líder natural desse movimento.

E, em algum momento do filme, a presençade Renato, com seu entusiasmo, inteligência e bom humor, faz pensar sobre o quanto ele, morto em 1996, aos 36 anos, faz falta – principalmente como letrista - ao atual ambiente do rock nacional, tomado por grupos como Pitty, Detonautas, CPM 22, Restart, não desmerecendo os mesmo, mas para uma boa parte da galera que curte rock Renato, é o Heroi nacional.

Felizmente, esse mesmo cenário se ampliou e atingiu outros estados, inclusive Pernambuco e Pará e por que não, Macapá que se observarmos já temos uma boa safra de bandas que estão amadurecendo e trilhando um caminho assim como as de Brasilia lá atrás.





Fonte: Revista Continente

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